José Alberto Bahia – Foto Carlos Hauck.
Atividades gratuitas acontecem em Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto
No dia 6 de dezembro, os ceramistas Alex Santana e José Alberto Bahia palestram em Miguel Burnier, distrito de Ouro Preto/MG, como parte da programação da 1ª edição da oficina da Cerâmica Santana. As atividades da oficina são completamente gratuitas e vão até 14 de dezembro. As palestras são abertas a toda a comunidade, com acesso gratuito e sem necessidade de inscrição prévia.
A primeira será conduzida por Alex Santana, criador da Cerâmica Santana, primeiro ateliê escola de cerâmica estruturado dentro de uma favela na América Latina, que hoje produz peças para renomados restaurantes Brasil afora. A palestra apresenta a produção de cerâmica, tanto utilitária como artística, desde os povos antigos até a atualidade. O artista ainda destrincha os processos da produção e os grupos coletivos que a tornaram uma forma de sobrevivência, além do seu caráter político.
Seguidamente, José Alberto Bahia realiza uma passagem por essa arte no Brasil, suas peculiaridades e influências. O artista lidera, junto com sua parceira Jessica Martins, o ateliê Saracura Três Potes, reconhecido por dialogar fortemente com a memória e com a natureza do país. Localizado em uma reserva ambiental, no povoado de Piedade do Paraopeba, em Brumadinho (MG), utiliza materiais como cascas de frutos e parte de objetos tradicionais do dia a dia do brasileiro, como copos lagoinha e latas de sardinha.
SOBRE A OFICINA CERÂMICA SANTANA
A 1ª edição da oficina da Cerâmica Santana conta com aulas conduzidas pelos ceramistas e artistas plásticos Alex Santana e Maicon Souza, da Cerâmica Santana, e é realizada com o objetivo de capacitar os alunos com técnicas de criação de cerâmicas. Além das aulas e palestras, a programação contará com quatro mostras de processo, momento em que os participantes poderão expor e comercializar os produtos desenvolvidos na oficina.
Com o projeto, a Cerâmica Santana, primeiro ateliê-escola de cerâmica em funcionamento dentro de uma vila de periferia no país, busca trazer de volta a prática da cerâmica para as comunidades tradicionais. O ateliê trabalha com o manuseio do barro para produção de peças artísticas e utilitárias, arte tradicionalmente popular, que hoje está bastante restrita a escolas de acesso restrito à população de baixa renda. Além de incentivar a produção artesanal, o objetivo da oficina também é trabalhar para a geração de trabalho e renda nas vilas e favelas.
Para Leonardo Beltrão, Diretor da Através – Gestão cultural, uma das empresas envolvidas no projeto, “é uma oportunidade ímpar podermos levar um pouco das técnicas da Cerâmica Santana para o interior, especialmente em uma comunidade com bastante potencial de desenvolvimento no campo da cultura, como Miguel Burnier.” O distrito possui vocação turística e cultural, com diversos patrimônios materiais e imateriais, como as igrejas, o congado, além de diversas iniciativas de formação.
“Detectamos um potencial enorme de geração de trabalho e renda, por meio da cerâmica, que faz parte da história de Ouro Preto e região. Além de poderem desenvolver as suas aptidões, os alunos terão a oportunidade de participar em eventos com grande circulação de público, para que as obras tenham vazam e possam ganhar o mundo. É muito importante esse tipo de incentivo realizado pela Gerdau, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, pois foge aos eventos tradicionalmente financiados com os recursos públicos e vai diretamente ao encontro da nova lei que acaba de ser sancionada pelo Governo do Estado, no intuito de descentralizar ainda mais as ações culturais em Minas. Esperamos que seja a primeira edição de muitas”, completa.
Este projeto é realizado por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, com incentivo da Gerdau.
SOBRE ALEX SANTANA
A história da Cerâmica Santana se mistura a de seu principal ceramista, o artista Alex Santana, que começou com a arte por meio de uma organização sem fins lucrativos de Belo Horizonte, a ONG Contato. “Um amigo me chamou para um curso diferente na ONG Contato: aprender a fazer vassoura com garrafa PET. Só que o forno comprado para queimar as cerdas também servia para cerâmica, e foi aí que o Marcelo Albert, na época aluno da Escola Guignard, montou uma nova oficina. No final, ficamos só eu e mais três pessoas, e todas nós seguimos no ofício até hoje”, conta Alex.
“Nessa época que me veio uma vontade de pertencimento. Todo menino negro que mora no morro vive isso — é um desejo que vai crescendo junto com a gente. Queria ter um tenizinho bacana, andar bem vestido, ser incluído nos grupos. Parte de meus colegas e vizinhos entraram para o crime. Arrumar um trabalho era muito custoso. Aos 17 anos, eu rodava, rodava, e não aparecia nenhuma oportunidade. Eu poderia ser mais um deles” complementa.
Inicialmente, as peças produzidas no local ainda eram pouco profissionais, o que impossibilitava a venda. Por conta disso, Alex não conseguia se dedicar exclusivamente à cerâmica e trabalhava também como garçom em um bar. “No início, precisava me dividir entre as tardes com a cerâmica e o trabalho em bar à noite. Até que o estabelecimento participou do festival gastronômico Comida di Buteco e o dono propôs usar as minhas peças para apresentar os pratos “, relembra o artista.
No festival, o artista conheceu renomados chefs de cozinha da capital mineira, como Júlia Martins, Ivo Faria e Flávio Trombino. Desde então, as peças produzidas pela marca vêm ganhando espaço em restaurantes estrelados de todo o Brasil, como o Outland, do chef Massimo Battaglini, e o OssO, do chef Djalma Victor, responsáveis pelos trabalhos mais recentes da Cerâmica Santana. Junto ao irmão Maicon Souza, cria peças descontraídas, inspiradas em cores, referências e formas do cotidiano.
SERVIÇO
1ª Edição Oficina Cerâmica Santana
de 7 de novembro a 14 de dezembro
Todas as terças e quintas-feiras
Local: Centro de Convivência Nossa Casa
Palestras com Alex Santana e José Alberto Bahia
Dia 6 de dezembro
atualizado em 06/12/2023 - 16:24